terça-feira, 1 de março de 2011

A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA NA HISTÓRIA DO BRASIL

O artigo que segue foi apresentado pelo irmão Josivan Pereira Dantas como Trabalho de Ascensão para Mestre-Maçom. Foi também divulgado pelo Jornal informativo maçônico Huzzé na sua edição de lançamento no mês de dezembro de 2010, tendo como editor o também irmão e 1º Vigilante da Loja Amâncio Dantas Phabiano Santos.

Josivan Pereira Dantas é oftalmologista, membro do Centro Espírita de Mossoró, Mestre-maçom e secretário da Loja Amâncio Dantas, Oriente de Mossoró.

Eis o artigo na íntegra, conforme publicado no jornal maçônico Huzzé, seguido do arquivo original da sua 1ª ed. Para visualizá-lo basta clicar sobre a imagem.

A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA NA HISTÓRIA DO BRASIL
TRABALHO DE ASCENSÃO PARA MESTRE-MAÇOM

Embora tenha nascido nos braços da Igreja medieval, a Maçonaria sempre teve no vaticano, um adversário vigoroso e persistente. É sabido por todos, a antipatia histórica alimentada pela Igreja em relação às instituições conhecidas como “secretas”. Foi assim com os Cavaleiros Templários e, com a Maçonaria, não poderia ser diferente. Assim como a ordem real foi competente em guardar seus segredos, também assim o foi na capacidade de adquirir inimigos. A Igreja certamente foi o seu adversário mais importante e combativo de todos. Duas bulas papais, editadas pelos papas Clemente XII e Bento XIV, atacavam a ordem. Quando presidia a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, o atual para Bento XVI foi claro e taxativo ao afirmar que os católicos iniciados na maçonaria “... estavam em pecado grave”.

• Inspirada nos ideais iluministas, com suas sessões secretas, seus supostos segredos, tendo como vanguarda um pensamento liberal, aberto ao novo, defendendo a liberdade de culto, dentro de sua filosofia deísta, não demorou para que a antipatia chegasse ao embate deflagrado com o Vaticano, desde os primórdios do século XVIII.

• No Brasil, reproduziu-se a mesma realidade do resto do mundo, onde Maçonaria e igreja católica se digladiaram com curtos períodos de calmaria e tolerância recíproca.

Na década de 1870, ainda no império, manifestaram-se de forma evidente as divergências entre maçons e religiosos católicos. Por um lado, as ameaças de excomunhão e por outro o discurso anticlerical. Nos templos maçônicos e católicos, bradavam-se as bandeiras e os símbolos, agitavam-se os ânimos.

Apesar da antipatia subliminar mútua entre as duas instituições, até o ano de 1870, não havia uma incompatibilidade manifesta. Até a primeira metade do século XIX, houve um grande número de padres e religiosos que se tornaram maçons, muitos dos quais envolvidos nas rebeliões de 1817 e 1824. Nos idos da questão religiosa, muitos padres receberam punição por serem pedreiros livres, além do fato de que inúmeros maçons eram e ainda são católicos.

Em toda a história das duas instituições, sempre houve um conflito natural entre elas. Apesar das brigas e oposição católica, deve se salientar o papel da tolerância maçônica em permitir e defender a liberdade religiosa em seus templos, num país em que, na época, havia uma religião oficial. Basta citar, por exemplo, o papel facilitador da implantação do protestantismo exercido pela maçonaria, no século XIX.

Até o início da segunda metade do século XIX, o clero nacional era liberal e grande parte dele, maçom. Esses padres rendiam homenagem a Jesus Cristo e ao Grande Arquiteto do Universo. A partir de 1738, com o pontificado de Clemente XII, iniciou-se luta aberta da Igreja de Roma contra a Maçonaria, que foi taxada por aquela de subversiva, inimiga do Estado e da Igreja. No entanto, até a primeira metade daquele século, as autoridades eclesiásticas fizeram vistas grossas à desobediência dos seus padres pedreiros livres.

Da mesma forma, os padres iniciados não se sentiam vivendo em pecado. Por exemplo, o padre e irmão Januário da Cunha Barbosa, um dos fundadores do GOB em 1822, assim falou sobre a maçonaria: “Filha da ciência e mãe da caridade, fossem as sociedades como tu, ó santa maçonaria, e os povos viveriam eternamente numa sociedade de ouro, satanás não teria mais o que fazer na Terra e Deus teria em cada homem um eleito”.

A partir da segunda metade do século XIX, no entanto, com o movimento conservador reformista da Igreja que buscava os valores mais ortodoxos, o número de padres que ousavam combinar a batina com o avental maçônico foi diminuindo gradativamente, a ponto de tornar-se exceção.

Condenada pelo papa e perseguida pelo alto clero brasileiro, a Maçonaria resolveu unir-se e fortalecer-se, reaproximando as potências e formando juntas o Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brasil, em 1872. Para espanto geral, diante da embate entre Saldanha Marinho e o visconde do Rio Branco pela disputa pelo cargo de grão mestre, a frágil e recente união maçônica se desfez, ainda naquele mesmo ano.

Esse novo racha tem um efeito terrível na combustão das divergências entre os grupos maçônicos rivais. Cada Oriente queria ter mais irmãos e lojas, que passaram a serem criadas nos mais variados lugares e cidades, em todo o país. Além de se preocuparem com a Igreja, seu inimigo número um, também brigavam entre si, os dois Orientes, pela hegemonia maçônica no Brasil.

Dessa maneira os anos 1872-1873, marcam oficialmente o início da questão religiosa e o retorno das divergências maçônicas, depois da tentativa frustrada de união. Essa briga tornou-se pesada, com a maçonaria procurando abrir lojas onde podia, numa tentativa de fortalecer-se e os combates saíram dos templos para as escolas, clubes de serviço, para a imprensa e, enfim
para toda a sociedade. Enquanto os pedreiros livres procuravam levar suas idéias para todos os rincões do país, a Igreja católica exacerbava seu discurso de satanização da Maçonaria.

A luta da maçonaria contra o conservadorismo católico atraiu a simpatia dos segmentos mais liberais da sociedade, levando-os à iniciação nos templos maçônicos. Por outro lado, o lado mais conservador da sociedade, era atraído pelas idéias católicas, passando a rejeitar e até temer a maçonaria, principalmente nas regiões mais pobres e menos favorecidas pelo conhecimento, como o Nordeste brasileiro. Uma simples reforma, qualquer proposta considerada nova, como, por exemplo, a implantação pelo governo central do novo sistema de
pesos e medidas, promoveu em várias regiões do Brasil, principalmente no Nordeste, onde durou por mais de uma década, a revolta do quebra-quilos, que repudiava tal reforma, associando-a à diabólica Maçonaria, verdadeira personificação do mal, para os conservadores revoltosos. O mesmo havia ocorrido quatro décadas atrás, com a “cabanada”, em Pernambuco e Alagoas, quando um conjunto de índios, escravos e pescadores, rebelaram-se com um forte discurso antimaçônico.

Ao mesmo tempo que pregavam a tolerância, a caridade e a virtude em geral, tinham os maçons que se sujeitar à discriminação de parte da sociedade, seguidora dos ideais mais ortodoxos, que via neles pessoas misteriosas, portadoras de segredos inconfessáveis, quiçá até bodes satânicos disfarçados de homens. Naquela época o perfil do maçom brasileiro era composto, em sua maior ia, de comerciantes e funcionários públicos, além de proprietários de terra, militares, médicos e oficiais. 60% dos irmãos não tinham curso superior. Era, portanto, um agrupamento bem heterogêneo.

No período imperial, as idéias vanguardistas da Maçonaria fizeram a Igreja crescer seu repúdio. A luta abolicionista, a Inconfidência Mineira, Guerra de Farroupilha, entre outros.

Já na no período republicano, a maçonaria e a igreja católica vieram a se unir, na luta comum contra o comunismo, com sucesso. Apesar dessa tênue união, voltariam a se enfrentar quando, por ocasião da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases do Ensino, que proporcionava subsídios públicos às escolas privadas católicas, a maçonaria a ela se contrapôs, argumentando que essa proposta favorecia instituições de ensino católicas em desfavor das instituições públicas, já tão naturalmente desfavorecidas, além de ferir o princípio da laicidade do ensino. Apesar de tudo, a maçonaria teve que amargar a vitória e o fortalecimento das instituições privadas católicas de ensino.

Outro embate entre as duas instituições foi durante a campanha pela aprovação do divórcio. Desde 1950, vinha a maçonaria defendendo a tese de defesa do divórcio por entender que, com a instituição do estado laico, deixava de ser o casamento um matrimônio, para ser mais um contrato consagrado pela lei civil e que, por sua natureza jurídica, poderia ser desfeito. Dessa vez foi a igreja que amargou a derrota, com a aprovação da lei do divórcio no Brasil, em 1977.

Apesar dos embates com relação à educação e o divórcio, nas últimas quatro décadas do século XX, houve um processo de conciliação entre as duas instituições.

Em 1983 entrou em vigor o novo Código de Direito Canônico, que não fazia qualquer menção a Maçonaria ou a qualquer seita não católica. Essa trégua aparente durou apenas 24 horas após a divulgação do código, uma vez que, somente 24 horas após, foi promulgada a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo cardeal prefeito da Sagrada Congregação Joseph Rtzinger, atual papa Bento XVI, que afirmava “...os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão”. Esse documento, infelizmente, permanece válido até os dias atuais, o que mostra uma tendência de retorno aos valores mais conservadores e ortodoxos, por parte do catolicismo.

O fato é que, apesar de dois séculos de desentendimentos entre católicos e pedreiros livres, a tendência é de convivência mais ou menos harmoniosa e cooperativa entre as duas partes. A fé católica continua a ser a mais professada entre os maçons, seguida pelo espiritismo, doutrina de cunho evolucionista nascida no século XIX com Allan Kardec, que veio ao encontro dos ideais liberais e progressistas maçônicos. Vale salientar que essa convivência pacífica entre a igreja católica e a maçonaria brasileira é mais do que possível, necessária.

Josivan Pereira Dantas
é oftalmologista. Membro
do Centro Espírita de
Mossoró. Mestre-maçom
e secretário da Loja
Amâncio Dantas,
Oriente de Mossoró.


Um comentário:

  1. E:.u:.trabalho muinto bonito, meu Ir:.Q:.O:.G:.GADU, Esteija em vossa loja, Envio UM T.A.F.

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