terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O DEVER FUNDAMENTAL

Tendo em vista que todos os homens devem ter consciência plena de suas responsabilidades profissionais e também como pessoa humana, enquanto seres sociais que devem promover a prática  da justiça, da igualdade e do bem comum, trazemos aqui o artigo "O dever fundamental", de autoria de Antonio Carlos Bloes, que nos faz refletir e aprender cada vez mais sobre os deveres e a moral maçônica e assim refletir melhor sobre a vida.

Eis o texto

Entre outros conceitos elementares de nossa Ordem, na quarta instrução de Aprendiz Maçom define-se o que é a Maçonaria, realçando seus atributos fundamentais, bem como são indicados, em síntese, os Deveres do Maçom. Na seqüência da instrução, resume-se o essencial da iniciação maçônica, evidenciando algumas de suas significações morais, em complementação ao tema principal dessa lição, que é, sem sombra de dúvidas, a MORAL MAÇÔNICA.

Em Loja e fora dela falamos constantemente sobre moral, ética, dever, virtude, vício, sobre o bem e o mal e conceitos afins, pressupondo que todos tenham a mesma compreensão dessas idéias. Raramente paramos para refletir, de maneira crítica, sobre tais valores, a fim de estabelecer um conhecimento mais preciso e claro sobre eles, de forma a ter validade e entendimento gerais, entre todos nós.

A primeira Constituição Maçônica, aquela de 1721, publica em Londres em 1723, no seu primeiro artigo, já estabelecia que "Um Maçom é obrigado, por sua Condição, a obedecer à Lei moral;" Portanto, esse é o primeiro dever do Maçom, dever esse que precede a todos os outros e decorre, logicamente, do pressuposto de uma Ordem Superior e Inteligente, da qual temos consciência e atribuímos à sabedoria do G.'. A.'. D.'. U.'..

Moral é algo que diz respeito exclusivamente ao homem, enquanto ser livre e inteligente e, portanto, com capacidade para escolher entre esta ou aquela conduta, e agir conforme sua vontade. Não há moral entre os seres inferiores, pois estes, quando agem, o fazem em razão de sua natureza, sem interferência de juízo de valor. O leão que abate sua presa não age moral ou imoralmente, simplesmente segue sua natureza felina, para atender a uma necessidade vital.

A idéia de Moral implica, portanto, em noções de bem e de mal, de dever, de obrigação, de responsabilidade, enfim, de valores humanos que são necessários à vida em grupo. O fato moral se distingue de todos os outros fatos, porque comporta a enumeração do que deve ser, enquanto os outros fatos significam simplesmente o que é. Em outras palavras, o exemplo do leão que abate sua presa é meramente um fato natural: é o que é, não cabendo qualquer discussão se deveria ser assim ou assado, porque não tem expressão moral nenhuma. Ao contrário, o homem predador poderá merecer a reprovação do grupo ou mesmo de sua própria consciência, se agiu contrariamente às regras de comportamento adotadas pelo grupo, ou seja, se agiu em oposição ao que deveria ser. Aqui estamos diante de um fato moral, pois está em questão o que é o bem e o que é o mal, frente a uma decisão voluntária do homem.

Resumidamente, é preciso ter presente que o bem é o que nos faz realizar a perfeição de nossa natureza, quer dizer, atingir o fim último de nossa natureza, e que o mal é o que nos desvia desta perfeição, fim último de nossa natureza.  Desde pequenos, aprendemos que os homens têm dupla natureza: uma material e outra imaterial. Temos nosso corpo físico e também nossa inteligência, razão ou espírito. Daí, logicamente, se conclui que a busca do bem ou da realização de nossa natureza deve ser travada levando-se em conta esses dois aspectos, evitando-se, por outro lado, tudo que comprometa ou desvie dessa perfeição. Para alcançar a perfeição de nossa natureza, quer física, quer espiritual, será necessário desenvolver nossas virtudes físicas e espirituais, procurando afastar de nós o seu contrário, a que damos o nome de vício.

Segundo Aristóteles, há duas espécies de virtude: uma intelectual e outra moral. A primeira, via de regra, adquire-se e cresce em nós graças ao ensino. Por isso requer experiência e tempo dedicado à instrução. A virtude moral, por outro lado, é adquirida como resultado de uma prática constante, ou seja, do hábito. É interessante notar que a palavra grega "éthos" , que significa "hábito", deu origem também à palavra ética, que significa moral.

E aqui nós chegamos a um ponto fundamental para compreender o valor da Maçonaria, de seus métodos de ensino e de sua Moral. Se a virtude moral não se adquire pela instrução, pelo aprendizado teórico, mas sim pela prática de atos virtuosos, todo o esforço da Ordem deve estar direcionado para criar, desenvolver, conservar e aprimorar os hábitos que conduzam a essa virtude moral. Todos nós nascemos com aptidão para desenvolver hábitos, bons ou maus. A Maçonaria oferece ao iniciado um método apropriado para desenvolver sua auto-disciplina, a partir da reiteração ritualística constante, exaltando os valores superiores que devem guiar o homem em suas relações consigo mesmo e com os seus semelhantes. A própria dinâmica de uma sessão maçônica acaba por desenvolver a tolerância de seus participantes, fazendo com que aprendam a ouvir e somente falar nos momentos oportunos. A prática de ações e gestos ritualísticos são exercícios simbólicos que trazem para a consciência a natureza de hábitos que, muitas vezes, não foram devidamente considerados por nós.

O respeito à ordem estabelecida, a obediência aos poderes legítimos, o exercício do poder com justiça e moderação, a fraternidade e igualdade que justifica o símbolo universal da Loja, a caridade que é lembrada no tronco de solidariedade, a perseverança na busca de uma verdade inatingível e, mesmo assim, cativante, tudo isso é meio para gerar hábitos morais, dando-lhes a consistência da vontade dirigida. Enfim, a Maçonaria não quer apenas um bom homem, prestativo e útil à sociedade. Ela quer construir, antes de tudo, uma consciência do Bom e do Justo, para que a manifestação exterior da bondade tenha uma causa superior, em harmonia com a natureza última do ser humano. É por isso que o maçom, nos dizeres de suas instruções de aprendiz, deverá cumprir todos os seus deveres porque tem a Fé, que lhe dá coragem; a Perseverança, que vence os obstáculos; o Devotamento, que o leva a fazer o Bem, mesmo com risco de sua vida, sem esperar outra recompensa, que a tranqüilidade de consciência.

A virtude maior da Maçonaria, pode-se dizer, é sua especial maneira de formar hábitos, reiterando exaustivamente mensagens que, muito embora escritas com as mesmas palavras, jamais esgotam o seu rico conteúdo, o qual evolui em compreensão à medida que nós mesmos evoluímos em nossos conhecimentos e experiências de vida. Sob esse processo peculiar e orientando-o a cada passo está a Lei Moral, porque a Maçonaria tem em vista o desenvolvimento harmonioso de toda vida humana, no plano individual e social, em busca da tão decantada fraternidade universal.


António Carlos Bloes, M.'. M.'.ARLS Harmonia e Trabalho, nº 222 - São Paulo, SP - Brasil

Fonte: http://www.maconaria.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário