Bem antes dos cristãos e até mesmo dos hebreus, já se comemorava a páscoa. A data coincide com o equinócio da primavera. É o momento em que o dia e a noite se igualam em duração. Para os povos nômades da antiguidade isso aparecia associado ao fim das agruras do inverno e ao início da fase fértil do pastoreio. A celebração, que chamar-se-ia mais tarde páscoa, se dava em torno do sacrifício de um cordeiro. Seu sangue untava os paus da tenda e a carne, assada, era devorada por inteiro. O objetivo era afastar as ameaças e desastres e também augurar fecundidade ao rebanho.
“Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: é o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou. E foram os filhos de Israel e fizeram isso; como o Senhor ordenara a Moisés e a Arão, assim fizeram.” (Êxodo: 12. 26-28).
Segundo a Bíblia, Deus teria ordenado a Moisés a instituição de uma celebração, que chamou de páscoa, determinando o dia 14 do mês de abibe (nisan) do calendário judaico, que cai entre março ou abril do calendário gregoriano.
A última Ceia que Jesus comeu com os seus discípulos foi uma refeição de Páscoa. (Mc 14.12).
Os primeiros cristãos respeitaram a Páscoa na mesma data e com os mesmos ritos dos judeus. A palavra Páscoa tem origem na palavra hebraica Pessach, transição. Mas, por volta do século II, a necessidade de demarcar fronteiras com o judaísmo já tinha começado a deslocar a cerimônia cristã para o primeiro domingo depois da data judia. Em Jerusalém, a diferenciação tardou e só veio a ocorrer em fins do século IV. Junto com ela, mudou a associação do culto – já não mais à fuga dos judeus do Egito, e sim à paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
A Páscoa cristã manteve o sacrifício do cordeiro pascal, cujas marcas ainda são visíveis em algumas celebrações modernas. Um padre abençoava o animal antes do sacrifício. Mais tarde o cordeiro transformou-se em empadinhas de carneiro, servidas depois da missa.
Enquanto a tradição judaica da Páscoa se modificava, misturava-se também com outras crenças, de outros povos também cultuadores do equinócio. Foi por onde se intrometeram os coelhos e os ovos – ambos símbolos clássicos da fertilidade.
Entre os fenícios antigos, a deusa da fertilidade – e do sexo – era Astarte, ou Istar. E trazia em suas mãos um ovo e uma lebre. O culto da primavera incluía também sacrifícios, só que humanos, de crianças e adolescentes.
Quanto aos ovos, a Igreja Católica oficializou-os como símbolo da ressurreição de Cristo no século 18. Mas são um símbolo de fertilidade extremamente difundido, adotado também pelos antigos gregos e romanos, além dos judeus: ovos cozidos são o primeiro prato do Seder, a ceia da Páscoa judaica (os chineses também têm uma tradição antiqüíssima de presentear ovos na primavera, mas não há evidências de conexão entre esta prática e as das culturas europeu-mediterrâneas). Também entre os eslavos (russos, ucranianos) eles aparecem – com o nome de pessankas e belamente pintados – em rituais de primavera vindos de tempos remotos. As pessankas impulsionam as colheitas, curam pessoas, trazem dinheiro, ajudam o parto e a lactação das vacas…
Uma prática semelhante, também com ovos cozidos e coloridos, aparece na Alemanha protestante do século 16, segundo os historiadores da Páscoa. Eles queriam que as crianças só comessem seus Oschter-Haws depois do fim do jejum da Quaresma. Colocavam-nos então em ninhos feitos nos chapéus dos pequenos, para devoração no dia da Páscoa.
Aparentemente, foi esta tradição que emigrou para a Pensilvânia, na América, por volta de 1700. E foi o Novo Mundo que agregou um novo elemento a tanto sincretismo, fornecendo o chocolate para os ovos da Páscoa modernos. Estes eram ovos de verdade, de galinha, até o século 19. A nova matéria-prima foi introduzida, na Alemanha, em 1828, e difundiu-se rapidamente, em ovos muito maiores, mais coloridos e saborosos que os das simples galináceas.Ao degustar o seu ovo da Páscoa, neste domingo, você estará devorando o tatatatatataraneto de um cordeiro do Oriente Médio de quatro mil anos atrás, a libertação dos hebreus, o sacrifício do cordeiro de Deus e acima de tudo o amor de Deus por nós.
Isaac Domingos da Silva
Fonte: msmacom.com.br
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